quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Na estação em que o chão é pintado de amarelo

     Confesso que ainda é uma questão de não saber, ou talvez, não reconhecer. Se ainda tento manter algum tipo de fé e esperança é porque sobrevivi ao vazio, com a respiração fraca, as pernas bambas e olhos marcados por um tipo maldito de insônia. Dentre tantas variantes sobre que tipo de pessoa eu poderia ser, me encontrei sendo (e percebendo que sempre fui) o tipo mais leviano e vulnerável: gente que só abre a porta quando o coração manda, que ignora qualquer tipo de racionalidade ou estabilidade - mesmo quando a insegurança lhe rouba noites inteiras.
     Eu não percebi e chorei noites por não saber enxergar. Sempre tive convicção que no fundo a ignorância era algum tipo secreto de sabedoria... E permitir que a vida lhe tirasse, aos poucos, a venda dos olhos, seria um ato nobre de coragem. Estou falando sobre essa espécie de gente bonita que abre os braços em frente ao mar e que ignora os cochichos alheios para seguir o caminho que o coração ordenar. São estes, que até mesmo no silêncio, fazem história. E decoram suas casas com tudo o que o vento é capaz de empurrar pela janela, com a luz do sol que invade, e até mesmo com as folhas que fogem no caos das tempestades. É uma questão de reconhecer que a vida em si é um ato passageiro e grandes são aqueles que reconhecem a verdadeira morada: o universo inteiro, dentro da própria alma.
     É tempo de enfeitar o asfalto com a graça da primavera, as caraibeiras deixam cair suas flores amarelas e iluminam toda a estrada. Estou de volta ao ponto inicial, o zero. Após cinco ano, de volta à cidade onde tudo começou... Onde sonhei os primeiros sonhos e contei as primeiras estrelas. O interior não é abençoado apenas pelas caraibeiras, mas o céu em si já é o encontro com algum tipo desconhecido de paraíso. Não existem arranha-céus para disputar o brilho com as estrelas, e na cidade pacata tudo parece brilhar um pouco mais forte. Em toda a extensão do céu, eu assumo a responsabilidade desse novo recomeço.

    "Dê-lhes grandeza e um pouco de coragem"



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Era uma vez uma menina chamada Maria, morava lá no interior e era doidinha. De dia, brincava de boneca, se imaginava casando com João, garoto da casa ao lado por quem era apaixonada, mas quando chegava de noite, Maria sonhava... "Quero isso não, eu quero mesmo é ser artista! Passar na tevê!" Só que aí amanhecia e Maria acordava... "Que sonho estranho é esse que eu tive? Num to de casamento marcado, sábado a tarde, com João?" E o então sonhado sábado chegou com Maria feliz acordando com sua sorte! Parabéns Maria! Mas justo na hora certinha que o padre perguntou: "Maria, aceita viver pra sempre com João?" A lua apareceu no norte antes que o sol se escondesse no sul, ficou noite, ficou dia e antes que a metade sol de Maria dissesse sim, a metade noite disse, "Aceito não"
Vai pro mundo Maria, vai ser artista...

História bonita de ser contada.
Trecho do seriado Clandestinos

sábado, 3 de novembro de 2012


     Na verdade, há um furacão na cabeça que reflete nos seus olhos pesados pela manhã. Não há mais tantas convicções sobre o horizonte, a vida por um instante se resumiu ao que há de verdadeiro, a parte intrínseca: o que há por dentro, que sofre metamorfoses, mas que continua seu, invariavelmente s-e-u. Essa parte que não se desfaz e que também não se alcança nos termos convencionais. Eu vejo gente que esqueceu de conceder ao sonho a glória da magia, e o que lhes tornavam grandes é só uma desculpa para vendar os olhos contra tudo aquilo que ouse lhe expulsar de uma vida calma e aceitável. O abismo é o paraíso daqueles que sabem voar, mas os saltos são regalias concedidas apenas aos que possuem coragem, porque asas todo mundo tem, o que falta é a fé e a sabedoria de aceitar a própria ignorância - o "não saber" sobre as estradas que lhes conduzem, Os mapas podem ser concedidos, as instruções podem ser ensinadas e por um momento até os clichês nos fundos dos caminhões farão sentido. Mas basta um vendaval, uma tempestade para tudo ir embora. É o preço que se paga por um equilíbrio fajuto, coisa de quem tem pressa até para ter calma. 

     Como se houvesse um livro cheio de palavras bonitas e poéticas que lhe dissesse que a vida não é assim, tão pesada. Para quem lê é fácil respirar entre os versos e esquecer do fardo que ainda pesa sobre as costas. A busca por respostas é o último grito, e o que ninguém reconhece é que há um tipo de retorno sobre os questionamentos, que apesar de ainda não ser tão concreto quanto uma resposta exata, é infinitamente libertador: os ventos. Que sopram em direções diferentes, mas sempre lhe bagunçando os cabelos numa forma de dizer que o segredo está dentro de si. Como a energia do mar, que em sua imensidão, termina humildemente nas praias para beijar os pés daqueles que estão dispostos a sentir. S-e-n-t-i-. Cada partícula do corpo e surpreender-se com a imensidão de sensação que existe dentro do seu próprio universo. E tudo passará a existir dentro de si, das necessidades vitais há apenas a busca por algo que abasteça a alma e nada mais. O ponto da partida é a entrega seja lá ao que for... Entrega ao que lhe desperta faíscas e te sustenta na ponta dos pés com os braços erguidos. São os passos de quem quer o céu para alcançar as estrelas. Entretanto, para ser capaz de se sustentar na ponta dos pés é necessário o equilíbrio para não despencar para um dos lados. O equilíbrio é força que rege os corajosos que abrem as asas para os abismos. Por isto eles estão a salvo... Em um tipo de contradição que nunca fez tanto sentido: Jogar-se, abrir-se, quebrar-se e continuar inteiro. Sempre haverá um preço, um outro lado, uma noite fria com rostos avermelhados e vestígios de lágrimas, assim como também sempre haverá o amanhecer. Nenhuma escuridão jamais será grande o suficiente para impedir o nascer do sol, não no meu litoral. Por isso a gente se cura, e respira, e segue na única direção possível: Em frente. Com as asas ainda inteiras e com outros abismos para poder atirar-se.

      Na bagagem a sabedoria das experiências, e no corpo a fidelidade sobre quem é. Assumir-se e surpreender-se com o que há por dentro. 

     Pularemos mais duas ondas, viveremos cem anos em um único dia. Para alcançarmos algum tipo de grandeza que é o nosso verdadeiro sonho. Abrir os braços em frente ao mar e escrever segredos na areia, s-e-n-t-i-r. A pele arrepiar, os pés na areia, a carícia quando a onda quebra-se diante de nós. Desapegar-se do que é concreto e palpável, decorar a casa com a luz do sol que invade pela janela. Libertar-se de si mesmo, se simplesmente i-r. Sem questionar a direção, guiando-se através dos sentidos. Com os olhos marejados, um punhado de saudades das vozes que se calaram, mas como brinde final: O encanto de um novo nascer do sol.