Eu sinto
como se houvessem atmosferas brancas envolvendo imagens delicadas. E eu
acredito em pessoas com a mesma força com que acredito em colisões. Está tudo
seguro, por ora. Eles deixam que a pele caia, camada por camada. Revelam
segredos, vaidades, medos e sonhos. Esse é o rastro da colisão: o que a gente deixa
escapar. E ainda assim meu corpo sempre se recolhe... Num rastro de luz que me
mostra um caminho no sentido corpo, alma. Não é fácil olhar para si com os
olhos de dentro, mas não há uma segunda saída quando a gente percebe o caminho
entre mantras, flores e estrelas. Só resta decorar a estrada de tijolos com
flores perfumadas em suas margens. Estar longe me faz vulnerável a um novo tipo
de sensibilidade. A atmosfera branca também envolve a minha solidão. E lua, que
decora a janela do meu quarto, deixa um aviso silencioso e contido: Go on baby,
go on. Mais uma vez, não me resta outra escolha. “É como estar condenado à
felicidade”, um tipo quieto, solitário e pacífico desta. É como ter o destino
desenhado entre as constelações, as Três Marias e outras mais, e o seu fim... O
seu belo, trágico e invariável fim, é morrer de alegria. Até nas ruas mais
desertas, nos becos, nos homens-poder-sem-fim, na própria tristeza, na
sensibilidade: Ver brotar um único e belo rastro de cor. As delicadezas são sempre envolvidas e
lembradas. É a nossa pureza e nossa vaidade.
domingo, 23 de fevereiro de 2014
domingo, 16 de fevereiro de 2014
domingo, 9 de fevereiro de 2014
Sobre part(ir)
De uma forma
muito curiosa, eu sempre acreditei na mudança. Mudar os móveis de lugar, trocar
os horários, atravessar a cidade por um novo caminho. Ir a um lugar
desconhecido. Sobretudo, i-r. Numa viagem entre estradas perigosas, caminhos
improváveis e incertos, jornadas longas de céus tempestuosos. E quando, num
momento oportuno, resolvi ir embora do ninho quente e confortável, descobri
novidades profundamente desagradáveis ao meu respeito. A parte boa é que
aprendi, de certa forma, a lidar com elas.
Existe um
cara que me ensinou que na vida os desafios são indispensáveis, e que se você
olhar bem fundo descobrirá que sempre há uma saída aguardando o seu alívio.
Esse mesmo cara foi quem me ensinou a abrir as asas, olhar pra frente, admirar
o céu, e respirar fundo. Quando os dias apertam, a solidão machuca, eu penso
nele... E em como ele espera que eu torne essa nova jornada em algo
extraordinário. Na cidade verde eu conto as delicadezas, as desventuras, os
triunfos. Eu me encanto nos espaços em branco que não conheci, e com as
pessoas-sem-nome que esbarrei na noite passada... E algumas revelações são
concedidas... Como a verdade sobre a liberdade que todos falam e cobiçam. Esse
sonho é como uma solidão disfarçada, um choro contente, uma vaidade volátil.
Sonhar também tem um preço.
Não há um
caminho mais fácil; o segredo é não olhar para trás. Aprendi a fechar as malas,
fechando ciclos. Deixando pra trás o que não me pertence, guardando no coração aqueles
que não passam, ficam. Enfeitei as estradas com um brilho florido, e todo o meu
mundo, universo, ou seja lá o que for essa atmosfera que me cerca, possui um
gostinho agridoce, com sonhos sobre ir em frente, sobre ir de encontro ao
mundo, entrando em carros/ônibus/aviões com uma lágrima fugida, um alívio
pesado. Haverá sempre um amor deixado nas rodoviárias, haverá sempre um pai
sonhador e uma mãe preocupada acenando pra você do lado de fora. Você pode
olhar para eles, e assisti-los caminhando de volta para suas vidas, esperando
que seus olhos sejam capazes de registrar a última sombra, o último pedaço de
pele... Aí então você fecha os olhos. Deixa a lágrima fugir, sorri um sorriso
leve, e compreende, em algum lugar dentro de si, que o mundo a espera
ansiosamente. E cada lugar, cada paisagem, cada mistério revelará verdades ao
seu respeito. Eu percebi... Não importa quantos quilômetros eu tenha
percorrido, as viagens possuem sempre uma mesma distância: Da mente para o
coração.
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