domingo, 29 de abril de 2012

"Quantas vezes eu estive
Cara a cara com a pior metade?
A lembrança no espelho,
A esperança na outra margem.

Quantas vezes a gente sobrevive
À hora da verdade?
Na falta de algo melhor
Nunca me faltou coragem (...)"


Surfando Karmas & DNA - Engenheiros do Hawaii

quinta-feira, 26 de abril de 2012

terça-feira, 24 de abril de 2012

Translações e Rotações

Essa é uma carta escrita para ser atirada contra o vento, sem envelopes ou assinaturas. Nas próximas linhas espero honrar o triunfo dos recomeços, das nossas vidas que perdem-se em vielas enquanto se preparam para brindar o alcance de novos céus.

A gente não conhecia a grandiosidade das nossas palavras enquanto confessamos segredos no sofá azul, mas é fácil perceber a atmosfera limpa que enchem meus pulmões de vida e me fazem não querer fechar a porta da varanda: Eu recuperei a minha astúcia. Foi como boiar sobre as águas de um rio e presenciar o fim dos nossos medos e o início de um mundo misterioso e instigante: Olhar para cada um dos lados e enxergar a infindável beleza do horizonte, quando o dia já não era mais dia, e a noite ainda não havia nos presenteado com as estrelas. Eu me encontrei entre o sol que adormecia lentamente, deitando-se atrás de uma colina, e a lua que se estendia destemida com a sua habitual elegância.

E enquanto houver a escuridão transformando-se em luz, e até mesmo luz que se funde em escuridões, eu serei capaz de sobreviver. Como despertar em uma manhã e ser capaz de ser levada através do canto dos pássaros, sem medos e agonias. As rotações nos tornaram capazes de alcançar a serenidade. Ainda seja bem vindo o caos do tempo que nos rompe ao meio e nos atira pedras contra a face. Aprendi que não posso correr do que machuca e corrói. Houve quem me puxasse pelo braço e dissesse para não temer: E eu não temi. Quando dei por mim estava sob as águas, imersa sob um misto de calmaria e tempestade. Mas não gritei. Não nadei até a superfície. Para ser honesta, ainda estou sem fôlego.

Como um sábio lhe confessou: “Hora do mundo dar mais uma cambalhota para trás

Para que o mundo vire mundo e possamos comemorar mais um triunfo. Para que um dia os anos virem história e possamos nos encontrar entre parágrafos gigantescos. Para que adormeçam os medos e desperte a glória da nossa astúcia. E que as noites sejam longas com sabor de eternidade (pra fazer o mundo caber entre as paredes de um quarto).

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Foi como soprar borboletas em meu estômago.
(E dar vida ao que eu conhecia como asas mortas)

sábado, 21 de abril de 2012

domingo, 15 de abril de 2012

E eis que em breve nos separaremos
E a verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia
Eu agora sei, eu sou só
Eu e minha liberdade que não sei usar
Mas, eu assumo a minha solidão
Sou só, e tenho que viver uma certa glória íntima e silenciosa
Guardo teu nome em segredo
Preciso de segredos para viver
E eis que depois de uma tarde de quem sou eu
E de acordar a uma hora da madrugada em desespero
Eis que as três horas da madrugada, acordei e me encontrei
Fui ao encontro de mim, calma, alegre, plenitude sem fulminação
Simplesmente eu sou eu, e você é você
É lindo, é vasto, vai durar
Eu não sei muito bem o que vou fazer em seguida
Mas, por enquanto, olha pra mim e me ama
Não, tu olhas pra ti e te amas
É o que está certo
Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca
E tudo isso ganhei ao deixar de te amar
Escuta! Eu te deixo ser… Deixa-me ser!

Clarice Lispector

sábado, 14 de abril de 2012

Agora eu suplico por mais força:

Pra ser capaz de não mais sustentar os medos. Devorá-los, talvez.

Eu tinha em mente que um dia o mundo pesaria ao ponto de me causar febre e dores em todas as partes do corpo. Eu só não sabia como era sufocante não poder escrever por dias inteiros, e quando remexia nas palavras só encontrava borrões na folha em branco: Mundos vazios mesclando-se entre os medos que me devoram. Talvez só agora eu seja grande o suficiente pra abrir a janela e gritar angústias contra o vento. É difícil estar no lugar daqueles que um dia escreveram sobre suas tristezas e dores. Poemas são belos quando lidos, mas poesia quando escrita é como uma lágrima que corrói a pele enquanto desce de encontro aos lábios.

Eu nasci para me desmanchar. Para não ser capaz de conter as lágrimas.

E o que nos prende aqui? O que me mantém presa neste casulo? Eu falo sobre liberdade, mas não sei abrir as asas. Eu sou a minha própria prisão com paredes imensas e concretas que impedem a luz do sol... Mas eu jurava que poderia tocar a luz. Eu daria meia vida pra ser capaz de alcançar a sutilidade. Adormecer é como calar os trovões e fazer parte de uma chuva calma, como uma simples e inofensiva garoa. Entretanto, despertar é pedir pra doer um pouco mais. Sentir o peso de uma ausência infindável, a morte de uma parte nossa que não nos permite mais ser como fomos no dia anterior. Sonhos fazem parte disso: Da morte que não vemos, do mundo que não nos despedimos. A realidade é a força que procuramos para tornar a dor um pouco mais suportável e a vida menos dilacerante.

Eu sinto que possuo uma veia dramática e não posso me desvencilhar dela. Seria como apagar toda a luz que compõe uma alma tristonha. As estradas costumam gritar meu nome, mas eu nunca vou além da janela e dos meus medos. – Talvez seja a hora de deixar as armaduras para trás. Porque eu sou a minha mais devastadora inimiga, que acorrenta os próprios pés com correntes pesadas.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

domingo, 8 de abril de 2012

Minha Boemia
(fantasia)

Eu caminhava, as mãos soltas nos bolsos gastos;
O meu paletó não era bem o ideal;
Ia sob o céu, Musa! Teu amante leal;
Ah! E sonhava mil amores insensatos

Minha única calça tinha um largo furo.
Pequeno Polegar, eu tecia no percurso
Um rosário de rimas. A Grande Ursa,
O meu albergue, brilhava no céu escuro.

Sentado na sargeta, só, eu a ouvia
Nessa noite de setembro em que sentia
O odor das rosas, que vinho vigoroso!

Ali, entre inúmeros ombros fantásticos,
Rimava com a débil lira dos elásticos
De meus sapatos, e o coração doloroso!

Arthur Rimbaud

segunda-feira, 2 de abril de 2012