quarta-feira, 28 de março de 2012

Esse é um apelo aos que sentem: Aqueles que gritam as dores do mundo.


Houve um dia quem acreditou no mundo e estendeu sua bandeira contra o céu. Algumas gerações se destrincham e sempre há uma alma que de tão bonita não coube no corpo, saltou para as artes. Eu não reclamo mais do meu choro e tento não encarar a vida com tanto pesar. A tristeza também é capaz de moldar quadros belíssimos.

O tempo não nos deixa olhar para os lados quando chega o entardecer. A gente vai ficando preso no próprio mundo e grita quieto sem fazer barulho pra não abalar a rotina do vizinho. Eu vejo quem anda por aí como quem esconde tesouros, mas não sou capaz de tocar. A gente vive cheio de medo porque sabe que o mundo não é tão óbvio quanto parece. Existem mais dores em uma madrugada do que se é possível contar ou chorar.

Não nos fora dado o artifício da blindagem então o máximo que podemos fazer é sangrar através de tintas e traços. Eu me lembro de estar escondida durante muito tempo, e de não me permitir saltar de edifícios altos quando sonhava. Essa cidade era pequena demais para tantos arranha-céus, nos roubaram a lua e as estrelas. Mas desde quando o céu é tão importante por aqui? Para gente como a gente que sente o mundo e espera o vento soprar um pouco de alívio, o céu sempre foi a fuga transformada em infinito.

Eu gostaria de saber como é ser engolida pelo mar. Talvez seja como ser dominada pelo mundo... Não é fácil expulsar essa confusão que brota a cada linha. Eu sei que jorro uma porção de sentimentos desvairados, mas já não tenho tanto medo: eu sei que você é capaz de compreender. Da mesma forma como quando um grito ecoa do outro lado da avenida e nos atinge pra corroer a alma e invadir o peito. Sensibilidade é um dom que custa a ser sustentado.

Ainda existem aqueles que nos atiram pedras e pedem para que sejamos capazes de olhar um pouco menos para o céu e mais para o chão. Há quem nos tire do mar pra pisarmos no asfalto, e quando nos empurram para o lado concreto, espero que sejamos capazes de plantar uma muda de flor nas margens do mundo. Assim somos capazes de deixar rastros e armadilhas de esperança.

Este é um apelo aos que sentem. Aos que colorem. Aos que sonham. Aos que são feitos de alma e corpo, e não o contrário. Porque o mundo precisa de alguém que grite e quebre esse vasto silêncio. É necessário uma boa dosagem de fé e coragem para os que sonham.

4 comentários:

  1. Textos como esse me são o que me motivam a continuar escrevendo.

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  2. " Ainda existem aqueles que nos atiram pedras e pedem para que sejamos capazes de olhar um pouco menos pro céu e mais pro chão. " Mal sabem eles que junto(a)s essas pedras ja não fazem efeito sobre nós. Texto lindíssimo!

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