segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Coração Beija-Flor

   
     Como breves mensageiros, eles me avisaram que tudo ficaria bem. "O mau tempo logo passará, os girassóis também sentem falta do calor, assim como você" E antes da calma eu me apego ao equívoco que existe em tempos anunciados: a gente desaprende a esperar e a saborear o amargo das chuvas. Costumo guardar esse tipo de ansiedade presa ao coração, o que faz de mim um pouco mais instável do que eu deveria ser. O coração explode e os abraços são a entrega de como estou prestes a me arrebentar contra o chão. Corações velozes conservam pernas fracas. As madrugadas são o ápice do consumo, do que nos devora. A insônia é a cúmplice da morte que leva embora cada gota de esperança... E os ansiosos viverão no breve espaço entre a miragem de tudo aquilo que poderia ter existido, e a realidade com tudo aquilo que não foi pelo medo de se doer. E se doar.

     Entretanto, eu não deveria ter começado de maneira tão triste e cruel. Afinal de contas, quem assume o medo, assume quase sem querer, a coragem. É o que reside nos olhos pesados que são abertos pela manhã, e corpos pequenos que sustentam corações aparentemente derrotados por mil vidas atrás. Existem alguns momentos do que entendo por lucidez, quando a sensação de estar perdido entre tantos cheios de estradas coerentes, faz um pouco de sentido - e mesmo assim o medo, ainda acompanha. São fatos que revelam a razão de um coração sempre tão acelerado e faminto, sempre ansioso pela surpresa que vem junto com o dia que amanhece. Sempre em busca do sol que o beija-flor lhe prometeu. Por isso ser tão estupidamente leviano e atrapalhado... Transforma os olhos em lunetas que buscam o brilho das estrelas em traços de flores, discos, chaves, aviões, lantejoulas e fotografias envelhecidas.

    É isso o que conta a história que ainda não terminou. Um segredo: Na verdade, ela anda se esgueirando pelos cantos, pedindo pra sair nos dias de chuva só pra enxergar o arco-íris. Se há coragem, eu não sei. Mas por existir medo e um alguém que quer atravessar as portas - e até mesmo, as janelas - me sinto segura em dizer que existirá um ato heroico. O momento em que os traços estranhos que se refletem no espelho sejam só mais um anúncio, não dos tempos que virão, mas de quem será capaz de desbravá-los. Com um coração de beija-flor e sempre a sensação de ser dona de mil vidas e vinte segredos.


   




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