sábado, 4 de fevereiro de 2012

Uma boa dose de existencialismo.

É curioso o desfecho da vida diante dos anos, porém mais curioso ainda é a surpresa de descobrir um ser completamente distinto habitando o seu próprio corpo. As pessoas nos fizeram acreditar em centenas de coisas e o pior é descobrir que usaram a inocência das crianças como uma ferramenta para a disseminação de novas ideias. Talvez o ponto alto da nossa vida não seja exatamente quando nos apaixonamos pela primeira vez, ou quando entramos para faculdade e passamos a morar em apartamentos solitários... O ápice da nossa existência é o momento em que começamos a trilhar um novo caminho em direção à libertação da nossa alma. É o momento do questionamento, da busca. O ponto entre a razão e o sentimento. O que queremos ou o caminho mais fácil. Olhar para dentro de si vai além de espelhos e reflexos. Olhar no fundo, dentro das razões incoerentes da nossa própria existência é como desvendar o mais admirável tipo de arte. Quando entramos em contato com o que por tanto tempo fora escondido, tudo aquilo que deixamos de exibir temendo julgamentos condenáveis. Entrar em contato com o nosso interior é uma tarefa árdua e nem sempre o caminho é seguido de flores. A gente também guarda um pouco da agonia de um céu chuvoso, o desespero de uma tempestade. O grito ecoa no fundo da mente e a gente converte-se em lágrimas melancólicas que refletem um pouco da agonia da existência em si. As pessoas possuem uma tendência quase assustadora para fugir das artes, talvez porque estas revelem coisas que já não somos capazes de explicar. É cruel para o homem se deparar com algo maior do que sua capacidade racional. Shakespeare enfrentou os nossos temores quando disse que existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia. A razão é exata e estável demais, por este motivo as pessoas a usam como alicerce. Concordo com Shakespeare em cada palavra dita, não sou capaz de ignorar meus sentidos – mesmo quando estes são inexplicáveis – quando entro em contato com a vida em sua condição mais natural. Eu gosto de pensar que a arte trilha este caminho, contestar o incontestável. O encanto do existencialismo de Sartre é a dose ideal para fazer os olhos brilharem diante da vida. Mesmo quando o que descobrimos é a nossa parte triste, o individualismo escondido nas entranhas da nossa solidão... Não importa o quão desesperador possa ser questionar a vida é uma arte.

Tristes são aqueles que descobrem a passagem, um pincel, um lápis ou até mesmo uma forma. Quadros, poemas, esculturas. São estas a manifestação mais sincera da nossa alma. A criação, ou melhor, concretização daquilo que corrói o nosso corpo por dentro. Fazer arte, talvez seja, a maior das agonias. O ponto em que o corpo estremece e a gente se dá conta do nosso tamanho miseravelmente miúdo diante dos sentimentos e sensações da vida. Por vezes chego a pensar que talvez meu coração não seja capaz de suportar a vida. Entretanto descobri que sensibilidade não é sinônimo de fragilidade. Os sensíveis são os olhos fortes do mundo.

No meio deste caos eu encontro um refúgio que não tem nada de seguro, mas mesmo assim me proporciona um pouco de calma em meio a tempestade. São os livros ou as palavras tortas que escrevo por aqui. São os filósofos de um tempo distante, os poetas, os escritores. São as pessoas vivas e imortais que transcendem a morte. Eu queria ser capaz de ter traços firmes para aliviar um pouco do que de passa no fundo da minha alma: Quero as cores fortes, as palavras entregues e o mundo com um horizonte em que cada pôr do sol possui um sol diferente. Talvez esta seja a minha arte, pessoas. Mesmo quando estas me despertam desprezo... Culturas é a palavra chave da minha estrada. E eu, aos dezessete me sinto como uma velha de sessenta anos que senta na varanda de casa para assistir o espetáculo da existência.

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