quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio; que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca; porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio… Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza; que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante; porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade… Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos; porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo… Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço; e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada; porque metade de mim é o que penso, mas a outra metade é um vulcão… Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável; que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que me lembro ter dado na infância; porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei… Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito, e que o teu silêncio me fale cada vez mais; porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço… Que a arte nos aponte uma resposta. Mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade para faze-la florescer; porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção… E que a minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor e a outra metade… também.
Oswaldo Montenegro

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