sábado, 21 de janeiro de 2012

"(...) Não sei lidar com algo que pode nos roubar de nós mesmos."

Eu não costumo pensar muito sobre a morte, mas quando estes pensamentos me agarram torna-se um pouco difícil desviar a mente para um outro assunto qualquer. Nunca fui de usar a racionalidade, medir as consequências dos atos. Da mesma forma que algumas palavras pulam pela minha boca eu simplesmente me entrego à vida de tal maneira que não consigo e não quero compreender o porquê de um final tão desesperadamente trágico. A vida soa como um filme interrompido, um ponto final que consome toda uma história em fração de segundos. O que há do outro lado sabemos muito pouco, mas é difícil imaginar um lugar tão mágico e ao mesmo tempo desesperador quanto o nosso lar no mundo. A morte nos vem e nos engole como um buraco negro perdido no universo. Não há nada a ser feito ou proclamado: A nossa vida, durante um único e breve instante, resume-se ao brilho de um olhar. É difícil imaginar a dor de perder um alguém que tenha cavado um lugar tão profundo dentro do seu coração: É como perder para a morte um pedaço de si – talvez a parte mais bonita que se cultivava dentro do próprio peito. Já ouvi dizer que não há como acabar com a dor, é algo que a gente aprende a lidar com a ajuda do tempo, das horas e dos dias.

Eu me perco no momento inicial, na hora em que descubro que o coração daquela pessoa já não bate mais. Nós deixamos de sentir e de sonhar. Lembro de quando eu era pequena e lidava com a morte de uma maneira mais inocente e menos dolorosa: As almas, em meu mundo pequeno, eram convertidas em anjos... Nós nos tornaríamos invisíveis e brotariam asas brancas em nossas costas, voaríamos para cuidar bem de quem ainda estivesse diante das desventuras da vida. No entanto, um pouco crescida eu não consigo encarar a morte de uma maneira tão leve e sábia. Com sete anos eu ainda era capaz de suportar o que hoje me parece uma interrupção inexplicável até para aqueles que já desfrutaram 100 anos.

Eu ouvi o relato de um acidente de carro. Uma família. Um pai amoroso, entretanto um pouco bêbado e sem noção de velocidade. Uma mãe preocupada. Dois filhos jovens e inocentes olhando o mundo pela janela sentados no banco de trás. Um certo descontrole, foi tudo o que foi preciso para a morte e os corvos terem a sua hora: Um carro capotado e já não havia mais família. O pai estava intacto, a mãe muito ferida. Os filhos? Já não sentiam o coração pulsar e o sangue correr nas veias. Foram minutos inconvenientes e um mundo que para aquelas pessoas deixou de existir. O pai está louco, não há palavra melhor que possa defini-lo. A mãe mesmo dilacerada por dentro queria só mais um instante; ver os corpos dos meninos. Nos apegamos ao que é palpável, mas eles já não estavam mais lá. Pela primeira vez eu suplico por um pouco de racionalidade: Onde há razão na ausência do suspiro da vida? O que nós somos? Não sou capaz de compreender esse conceito banal sobre a nossa jornada: O começo, meio e fim.

O corpo nos consome por dentro e a vida nos prega peças. Mas o que somos quando comparados aos estragados que o mundo pode nos acarretar? Quem somos nós diante do véu negro que cobre a morte? O suspiro final, o coração quebrado e os sonhos abandonados. A morte ainda não faz sentido no meu coração. Mesmo quando eu vivo suspirando dramas não sou capaz de lidar com a presença de algo que pode nos roubar de nós mesmo.

Mas quem sabe não seja melhor voltar a pensar como uma garotinha de sete anos: A morte seria menos pesada, e poderia até aderir tons mais claros. Seria apenas o começo de uma jornada como anjos. A recompensa por tantas dores em uma única vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário