Abandonar o mundo que até então era tudo o que se conhecia é como matar uma parte de si, mas no final das contas a gente descobre que essa morte é inevitável. Não entro mais nos ônibus com a mesma paciência, eu quero chegar lá o mais rápido possível, onde quer que esse “lá” esteja. É nos meus pés desastrados que reside a minha culpa, porque eu ando apressada e tropeço nos cadarços desamarrados. Eu perdi a chance de olhar o céu pela manhã quando o medo vendou os meus olhos. Eu perdi a chance de chorar quando respirei fundo e moldei mais uma pedrinha no meu coração. As lágrimas, quando não derramadas, nos endurecem. É como a tristeza libertando-se do abstrato e invadindo o mundo concreto.
“A gente também tem que ter muito mais coragem, porque temos muito mais medos.”
E a gente não se desfaz da solidão porque tem medo de acabar com as mãos vazias e nenhuma história pra contar. Enquanto a luz do quarto estiver apagada o mundo fica mais quieto, e não há mais tanto medo do escuro. Eu arquitetei a minha própria melancolia mas acabei sem saber continuar o poema... Como a vida que permanece estagnada em um verso que se perdeu em meio ao que o caos foi capaz de estabelecer. A loucura é um borrão negro que não se deixa ser revelado... Enquanto andamos na rua ninguém olha pros lados, mas é mania minha olhar andando pro chão. Culpa do medo. Mesmo quando o que vem depois é o que me instiga...
“These days I barely get by
I don’t even try”
Incrível como uma febre pode salvar o dia. Sabe, por um texto desses, acho justo cancelar uma sessão comum de cinema. Que medo que dá não saber o que acontece depois do medo, né? O que poderia ter vindo e não veio porque somos cheias de arrependimentos, mesmo antes de errar. Onde foi parar nossa coragem de olhar pra frente? Eu ando igual a você na rua, olhando pro chão, mas sempre imagino que todos estão olhando pra mim.
ResponderExcluirRoubaram a nossa astúcia, minha menina.
A febre só me ajudou a desmanchar a agonia Mari... Que medo que me dá falar disso tudo e assumir tamanha agonia. E, eu preciso repetir sempre que possível, nossas conversas me proporcionam uma boa dose de coragem. O trechinho ali é bem familiar, não acha?
ExcluirA gente tem que se esbarrar um pouco mais, viu? Pra salvar três dias em um só. Quem sabe a gente deixa o medo de lado e levanta a cabeça pra olhar pro mundo...
Esse texto me tocou tão no fundo, você não tem ideia... E eu não tenho palavras pra descrever... Elas correram, bem devagar, mas eu não alcancei. Acho que não as vi indo, na verdade. Estava olhando por chão.
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