domingo, 11 de março de 2012

Apesar de tudo, eu sei. It's my fault.

Nunca estive presente de corpo e alma: Metade de mim temia o futuro enquanto a outra se condenava pelo passado. Eu esperava ansiosamente pela hora do dia em que era permitido chorar quieta e fechar os olhos em um pedido de fé. Fé não sei em que, depositada em não sei quem... Soava mais como um pedido choroso feito ao universo, que conspire ao meu favor e que eu seja forte o suficiente para sustentar a casa em dias de tempestade.

Abandonar o mundo que até então era tudo o que se conhecia é como matar uma parte de si, mas no final das contas a gente descobre que essa morte é inevitável. Não entro mais nos ônibus com a mesma paciência, eu quero chegar lá o mais rápido possível, onde quer que esse “lá” esteja. É nos meus pés desastrados que reside a minha culpa, porque eu ando apressada e tropeço nos cadarços desamarrados. Eu perdi a chance de olhar o céu pela manhã quando o medo vendou os meus olhos. Eu perdi a chance de chorar quando respirei fundo e moldei mais uma pedrinha no meu coração. As lágrimas, quando não derramadas, nos endurecem. É como a tristeza libertando-se do abstrato e invadindo o mundo concreto.

A gente também tem que ter muito mais coragem, porque temos muito mais medos.

E a gente não se desfaz da solidão porque tem medo de acabar com as mãos vazias e nenhuma história pra contar. Enquanto a luz do quarto estiver apagada o mundo fica mais quieto, e não há mais tanto medo do escuro. Eu arquitetei a minha própria melancolia mas acabei sem saber continuar o poema... Como a vida que permanece estagnada em um verso que se perdeu em meio ao que o caos foi capaz de estabelecer. A loucura é um borrão negro que não se deixa ser revelado... Enquanto andamos na rua ninguém olha pros lados, mas é mania minha olhar andando pro chão. Culpa do medo. Mesmo quando o que vem depois é o que me instiga...

“These days I barely get by
I don’t even try”

3 comentários:

  1. Incrível como uma febre pode salvar o dia. Sabe, por um texto desses, acho justo cancelar uma sessão comum de cinema. Que medo que dá não saber o que acontece depois do medo, né? O que poderia ter vindo e não veio porque somos cheias de arrependimentos, mesmo antes de errar. Onde foi parar nossa coragem de olhar pra frente? Eu ando igual a você na rua, olhando pro chão, mas sempre imagino que todos estão olhando pra mim.
    Roubaram a nossa astúcia, minha menina.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A febre só me ajudou a desmanchar a agonia Mari... Que medo que me dá falar disso tudo e assumir tamanha agonia. E, eu preciso repetir sempre que possível, nossas conversas me proporcionam uma boa dose de coragem. O trechinho ali é bem familiar, não acha?
      A gente tem que se esbarrar um pouco mais, viu? Pra salvar três dias em um só. Quem sabe a gente deixa o medo de lado e levanta a cabeça pra olhar pro mundo...

      Excluir
  2. Esse texto me tocou tão no fundo, você não tem ideia... E eu não tenho palavras pra descrever... Elas correram, bem devagar, mas eu não alcancei. Acho que não as vi indo, na verdade. Estava olhando por chão.

    ResponderExcluir