domingo, 22 de janeiro de 2012

Epifanias

Eu gosto de ficar do lado de cá com as janelas abertas, gosto de ficar sozinha. São nesses momentos que eu deixo o vento entrar e bagunçar a casa inteira, eu deixo que leve os papéis sujos e as histórias que não foram contadas. Gosto desse silêncio no final da tarde porque eu me deito sobre o sofá e deixo a porta da varanda aberta: Eu gosto de olhar o modo com que o dia chega ao fim, e raramente nós nos damos conta de que este é só mais um começo. Agora a vida é destrinchada sob as estrelas e o luar. A gente pode soltar balões e perde-los para a solidão da noite da mesma forma com que perdemos nossas vidas diante das incertezas.

O encanto da infância está na inocência e na duração dos momentos. As lembranças consomem nossa mente e os anos já não passam de maneira tão lenta. A vida pula e a gente nem lembra mais de onde quer chegar; A gente só quer andar. Dar o próximo passo no escuro e ver onde isso vai dar. A ansiedade que um dia consumia as minhas madrugadas vai tornando-se algo mais calmo e até mesmo simplório, porque eu aprendi a deixar a vida cuidar um pouco de mim mesmo quando esses cuidados me deixam com marcas infindáveis. Eu sei que devorei um bom livro em uma tarde de sábado e acabei com vontade de pintar o quarto e deixar a vida um pouco mais bonita. Faz parte de mim essa mania de querer sempre saber mais e mais sobre o que nos move, meu pecado maior é deixar de viver enquanto deixo a vida me intrigar.

Eu quero fazer as pazes com o amor e com o meu jeito desengonçado. Eu levanto agora a bandeira branca para a tristeza e a deixo entrar, ofereço aconchego e um pouco de café amargo. Eu quero fazer as pazes com o meu encanto pela solidão. Quero fazer as pazes com o meu sorriso bobo e esse meu jeito fácil de deixar-se encantar. Quero também dizer olá para a saudade e conversar um pouco enquanto tomamos um pouco de chá... Queria lhe confessar de que estou farta de reclamar da falta, do que se foi, da ausência.

As razões eu vou deixando de lado e no fundo sei que nunca pedi por um pouco de sentido no meio de tanta desilusão. Não quero esquecer aquele amor de outras vidas e uma história. Eu vou atirar cartas por debaixo das portas deixando um pouco dos meus segredos para trás. Vou correr pra ser do mundo e fazer do mundo o meu lar. Com a minha fé eu bordo a coragem, com alguns livros, um bocado de histórias e as canções eu nunca estarei só. Vou comprar um cartão postal na banquinha que fica de frente pro mar e escrever um pouco da minha aventura de menina. Não sei pra quem o enviarei, talvez o deixarei guardado entre as páginas de um livro bom. Eu gosto da história, e talvez, goste de guarda-la só pra mim.

Eu vou conhecendo dessas pessoas que possuem esse brilhinho especial e carregam um oceano nas pupilas. Vou escutar as histórias de um velho senhor que senta-se durante todas as tardes na varanda de uma casa grande, ele vai confessar a saudade de seus filhos e eu lhe falarei do quão grande é a minha família. E o quão longe estou de casa...

Da vida, sei bem o que eu quero. Mesmo quando o que eu quero não é algo muito claro e só vem a exibir-se quando entro em contato. Eu vou fazer as pazes com um coração surrado que bate aqui dentro e vou tentar não tropeçar nas mesmas pedras. Vou dançar debaixo da chuva enquanto ando por uma cidade grande. Quero abandonar o medo numa caixa velha e deixá-lo adormecer... Quero menos prisões, e só liberdade.

Um comentário:

  1. Hey Isla, eu estava dando uma lida nos seus textos e amei. Estou seguindo já. Se puder dê uma olhadinha lá : amor-em-demasia.blogspot.com

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