domingo, 29 de janeiro de 2012



Jamais ousei abandonar o vestido de bolinhas, a franja desarrumada e o gosto pela beleza da praia na hora em que o sol beija o mar traçando cores belas que alcançam o horizonte. Em 1998 eu ainda era tão miúda e desentendida. Gosto de ouvir minha mãe contar histórias sobre as nossas viagens para casa de praia naqueles anos dourados. Ela sempre narra a minha agonia ao ficar dentro de casa, minhas pernas suplicavam para correr até o amar custe o que custar. E assim, ainda tão pequena, não havia um só capaz de me segurar pelos braços. Eu entendo que esse meu amor por uma vida leve com asas feitas de liberdade é quase um instinto, como algo que vem de dentro. Esta é a causa pela minha repulsa por prisões e paredes com cores cinzentas. Gosto de admirar as fotografias antigas, passo horas a fio virando as páginas dos álbuns que escondo no fundo da gaveta. Pego uma foto e a deixo entre as folhas de um livro que tenho devorado no momento. Marco a página e guardo a lembrança como quem guarda uma arca do tesouro. Nos traços eu vejo as marcas do tempo, as roupas em que não caibo mais. Eu tenho compreender, ainda que de maneira borrada, o compasso dessa vida feita de chegadas e despedidas: O vestido de bolinhas já não está mais pendurado no guarda-roupa e aquelas pessoas das fotografias já não são mais tão presentes. Há alguns anos eu lembro que havia cortes em meu corpo pequeno, eram marcas no joelho de uma garota levada e incrivelmente desastrada. Sempre fui passarinho desastrado. Mas agora as cicatrizes geradas por uma queda da árvore são substituídas pelas marcas da tristeza que compõe a minha alma. E mesmo pedindo a Deus para ser uma pessoa um pouco mesmo tristonha eu tenho a certeza de que eu jamais seria capaz de abandonar uma fração da minha melancolia. Mário Quintana estava certo ao dizer que a melancolia é uma maneira romântica de estar triste.

A gente cresce, se dói, se dá. Sem nem perceber já estamos entregue ao que ousamos chamar de vida, porém lhe confesso que o meu maior devaneio foi ter sido do mundo, antes de ser minha. Mas a gente aprende quando pega a borracha para apagar os erros e os próximos traços estão sempre mais próximos dos acertos. E ainda haverá curativos, mesmo que nos restem as cicatrizes. Aos poucos vou aprendendo a dizer adeus, mesmo quando uma parte de mim grita ódio por despedidas. Eu deixo a janela aberta para que o vento limpe o quarto e varra a minha alma. Vou virando saudade, lembrança, carinho. Vou crescendo e me tornando um pouco minha também. Eu acordo para a vida e a aceito sem eufemismos.

E mesmo assim, pesada e cheia de medos, posso me sentir leve como em uma tarde, no ano de 1998, andando pela praia... Ou melhor, correndo e pedindo aos céus por um par de asas.

Um comentário:

  1. Olá Isla, tudo bem?
    Awn! Que lindeza de post.
    Enquanto lia, a nostalgia dava tapinhas em meu ombro e insistia em me lembrar de tantos momentos passados, de tantas marcas, de tantas alegria e percebi que tudo isso formou a Juliana de hoje, sei que não é possível revivê-las porque o lugar delas é lá atrás, lá na minha construção.

    Beijos =*

    Juliana D.
    fez-se-flor.blogspot.com

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